terça-feira, 22 de julho de 2014

A inversão de valores e a importância da engenharia



por Eng.º Milton Golombeck


TQSNews, Ano XVI, nº 34, fevereiro de 2012, pág. 39


Vivemos em uma sociedade na qual são valorizados predominantemente as aparências e o glamour. Modelos, cantores, atores e atletas se sobrepõem, com seus valores, a outros valores essenciais ao progresso da condição humana e à melhoria da qualidade de vida. Mas o problema não é apenas brasileiro; é fenômeno universal, com algumas raras exceções.

Mas não se pode esquecer que basicamente tudo o que utilizamos em nosso dia-a-dia – meios de transporte, tais como rodovias, ferrovias, aeroportos, edifícios residenciais, espaços para abrigar hospitais, escolas, centros culturais etc. – tudo isso são projetados pela inteligência de arquitetos e engenheiros. A engenharia, em meu entendimento, é a maior responsável pelo progresso da humanidade em todos os campos do conhecimento humano.

Na mesma semana em que os jornais, revistas e TVs gastaram páginas e horas para mostrar e comentar as roupas e joias usadas na entrega do Oscar, foi dado o prêmio Russ Prize – equivalente ao Nobel de Engenharia – para os engenheiros Earl Bakken e Wilson Greatbatch. Contudo, nenhum comentário apareceu na mídia a respeito disso. E essas personalidades, foram os inventores do marca-passo. Graças a elas, atualmente mais de 4 milhões de pessoas estão vivas. São instalados mais de 400 mil marca-passos por ano no mundo.

Na inauguração das grandes obras de Engenharia costumam aparecer as autoridades eventualmente de plantão. Mas os nomes dos engenheiros e dos projetistas que as projetaram e construíra, invariavelmente são negligenciados e esquecidos. Quando muito, são divulgados os nomes das construtoras.

Nos folhetos de venda dos imóveis e coquetéis de lançamentos aparecem os paisagistas, decoradores de interiores e imobiliárias. Mas não aparecem os nomes das empresas de Engenharia envolvidas nos projetos de estruturas, fundações e instalações. A Engenharia é encarada quase como um mal necessário.

Só somos lembrados quando ocorrem catástrofes e acidentes em obras. Nestas horas, todos querem identificar os engenheiros responsáveis. É nossa a responsabilidade de mudar este quadro, valorizando nossa profissão, fazendo com que as conquistas da Engenharia sejam reconhecidas e deixem de ficar em terceiro plano. Esta falta de reconhecimento e valorização tem consequências diretas nas remunerações dos serviços de Engenharia.

As imobiliárias, que não tem nenhuma responsabilidade pelas edificações, nem pelo seu desenvolvimento, recebem 6% do valor geral de vendas (VGV) enquanto todos os projetos de engenharia da obra somados representam no máximo 2% do VGV. Pior: ninguém discute os gastos com concretagem. Em compensação discutem os custos de projetos e das soluções de Engenharia. Trata-se de uma total Inversão de Valores!

Com o crescimento da economia no Brasil, cada vez mais a nossa profissão será necessária. Com mais de 40 anos de atividade, passando por vários planos econômicos, posso afirmar que escolhi a profissão ideal. Precisamos de mais engenheiros e tecnólogos urgentemente. A valorização da profissão fará com que mais estudantes se interessem em entrar num dos campos mais desafiadores e gratificantes das atividades humanas: a Engenharia!