por Eng.º
Milton Golombeck
TQSNews,
Ano XVI, nº 34, fevereiro de 2012, pág. 39
Vivemos em uma sociedade na qual são valorizados
predominantemente as aparências e o glamour. Modelos, cantores, atores e
atletas se sobrepõem, com seus valores, a outros valores essenciais ao
progresso da condição humana e à melhoria da qualidade de vida. Mas o problema
não é apenas brasileiro; é fenômeno universal, com algumas raras exceções.
Mas não se pode esquecer que basicamente tudo o que
utilizamos em nosso dia-a-dia – meios de transporte, tais como rodovias,
ferrovias, aeroportos, edifícios residenciais, espaços para abrigar hospitais,
escolas, centros culturais etc. – tudo isso são projetados pela inteligência de
arquitetos e engenheiros. A engenharia, em meu entendimento, é a maior
responsável pelo progresso da humanidade em todos os campos do conhecimento
humano.
Na mesma semana em que os jornais, revistas e TVs gastaram
páginas e horas para mostrar e comentar as roupas e joias usadas na entrega do
Oscar, foi dado o prêmio Russ Prize – equivalente ao Nobel de Engenharia – para
os engenheiros Earl Bakken e Wilson Greatbatch. Contudo, nenhum comentário
apareceu na mídia a respeito disso. E essas personalidades, foram os inventores
do marca-passo. Graças a elas, atualmente mais de 4 milhões de pessoas estão
vivas. São instalados mais de 400 mil marca-passos por ano no mundo.
Na inauguração das grandes obras de Engenharia costumam
aparecer as autoridades eventualmente de plantão. Mas os nomes dos engenheiros
e dos projetistas que as projetaram e construíra, invariavelmente são
negligenciados e esquecidos. Quando muito, são divulgados os nomes das
construtoras.
Nos folhetos de venda dos imóveis e coquetéis de lançamentos
aparecem os paisagistas, decoradores de interiores e imobiliárias. Mas não
aparecem os nomes das empresas de Engenharia envolvidas nos projetos de
estruturas, fundações e instalações. A Engenharia é encarada quase como um mal
necessário.
Só somos lembrados quando ocorrem catástrofes e acidentes em
obras. Nestas horas, todos querem identificar os engenheiros responsáveis. É
nossa a responsabilidade de mudar este quadro, valorizando nossa profissão,
fazendo com que as conquistas da Engenharia sejam reconhecidas e deixem de
ficar em terceiro plano. Esta falta de reconhecimento e valorização tem
consequências diretas nas remunerações dos serviços de Engenharia.
As imobiliárias, que não tem nenhuma responsabilidade pelas
edificações, nem pelo seu desenvolvimento, recebem 6% do valor geral de vendas
(VGV) enquanto todos os projetos de engenharia da obra somados representam no
máximo 2% do VGV. Pior: ninguém discute os gastos com concretagem. Em
compensação discutem os custos de projetos e das soluções de Engenharia.
Trata-se de uma total Inversão de Valores!
Com o crescimento da economia no Brasil, cada vez mais a
nossa profissão será necessária. Com mais de 40 anos de atividade, passando por
vários planos econômicos, posso afirmar que escolhi a profissão ideal.
Precisamos de mais engenheiros e tecnólogos urgentemente. A valorização da
profissão fará com que mais estudantes se interessem em entrar num dos campos
mais desafiadores e gratificantes das atividades humanas: a Engenharia!